Boa tarde, queridos!
Como hoje é dia das mães, venho presentear as mais destemidas senhoras com esta história de ficção científica boa demais da conta proceis! Divirtam-se!
Depoimento da acusada, a senhora Margarida das Dores Borges, datado do dia quinze de setembro de 2195, às quatorze horas.
Sempre falei que a sinalização de vocês era estranha.
Ah, aquele dia não foi nada demais. Eu tava há umas duas semanas, já, ou três, não lembro, lá na firma do Nestor com um monte de máquina estranha e nenhum lugar pra tomar um ar fresco, ele não deixava eu sair pra nada, dizia que era perigoso. Valha-me Deus, eu não aguentava mais.
Eu tava indo tirar a roupa da secadora e entrei numa sala diferente, isso, aquela. Sempre falei que a sinalização naquele prédio é uma porcaria. Aliás, a decoração também é de péssimo gosto, falta um toque feminino, sabe? A gente se sente numa prisão.
Sim, então, eu acabei me confundindo naquele corredor enorme, e vi essa máquina aí. Mas se tem uma coisa que eu não sou é de desistir fácil. E outra, do nada, esse lugar destrancado, eu não via a hora de aprender uma coisa nova pra melhorar um pouco que seja a vida naquele lugar. E foi aí que eu comecei a mexer.
Como eu consegui? Ah, eu já sabia o básico, na minha época a gente não tinha cursinho pra tudo igual vocês hoje, que pra cada pergunta tem um curso inteiro pra baixar na memória orgânica. Não, não, na minha época a gente aprendia mexendo, fazendo mesmo. Já contei que aprendi a costurar roupa abrindo as camisetas de mãezinha lá em casa? Pois bem, é a mesma coisa.
Eu queria sentir de novo o cheirinho de bebê de Nestorzinho, pense numa saudade que tenho daquela época, parece que as coisas eram menos complicadas. É claro que eu não sabia que aquilo era uma máquina do tempo de verdade! Quando eu tirei aquele bebê lindo da cápsula, achei que era um daqueles hologramas que estão vendendo hoje na TV. E agora tem um buraco negro enorme na parede da lavanderia e lá se foram as minhas roupas, tudo por conta dessa sinalização estranha de vocês.
Relatório censurado do Departamento de Comunicação - excerto
Na manhã do décimo oitavo dia de confinamento, a profecia se cumprira do modo mais inesperado. No noticiário, nas ruas, nos estabelecimentos comerciais, todos faziam o que podiam para evitar o fim do mundo que aparentemente se aproximava. O caos se instalara de tal forma que Nestor Borges, comandante das forças especiais estelares, se viu obrigado a trazer a mãe, sua única família, para dentro das instalações ultra-secretas do governo local.
A idosa vagava há dias pelo complexo de laboratórios e experimentos controlados e tinha dificuldade para compreender o nível de profissionalismo e seriedade a que os colaboradores eram submetidos no local. Praticamente tudo ali era automatizado, de modo que dona Margarida se sentia inútil por grande parte do dia. Conversar, também, era impossível: todos estavam tremendamente ocupados monitorando todas as variáveis possíveis para o controle do que seria uma fenda no tempo a ser aberta exatamente ali, naquela mesma cidade, de acordo com os meteorologistas. Seria a primeira no planeta desde o colapso de 2137.
Acontece que o local, com uma variedade de túneis que se espalhavam em andares e salas através de longos corredores, era algo dispendioso demais de se olhar e controlar, ainda mais nas partes mais antigas nas quais ainda se viam, por exemplo, lavanderias no modelo antigo e velhas armas inoperantes há décadas.
No turbilhão de obrigações apocalípticas, não havia nenhum funcionário capacitado e atento o suficiente para perceber que dona Margarida começava a frequentar a ala oeste para lavar suas roupas, perigosamente perto do comutador temporal que fora desativado há muitos anos, devido ao potencial de catástrofe. Evidente que não havia necessidade de gastar recursos com a interdição e sinalização do local, pois ninguém seria suficientemente tolo para ligar o aparelho, ou suficientemente inteligente para ligá-lo direito, sabendo dos riscos envolvidos.
Quando os investigadores conseguiram finalmente apurar o caso e puderam entrevistar a suspeita, viram-se diante daqueles poucos casos em que a notícia não poderia ser dada da forma crua, ou a população perderia completamente a fé nos seus governantes, na produtividade, nos estudos, nas altas qualificações, no máximo desempenho. Se isso tudo não poderia salvar a humanidade, o que mais poderia?
E enquanto toda a sociedade ocidental corria rumo ao seu destino autoproclamado, justamente ao tentar escapar dele, dona Margarida apenas lamentava que a fenda espaço-temporal tenha sido aberta justamente na parede da lavanderia.
Não se esqueça de compartilhar com aquela mãe autodidata que você conhece!
Um abraço, e até sexta!
Haha Muito bom! Tadinha, acionou uma máquina do tempo — e teve uma incrível capacidade para tal. Obrigado por compartilhar essa história, eu amei.